Opinião: Em Itarantim o lema do governo virou obstáculo e proíbe grupos sociais de ocupar espaço público

É fundamental que a imprensa, ao invés de apenas noticiar, também posicione-se e ofereça análises críticas. O que abordaremos aqui não é uma notícia fria, mas sim uma opinião embasada sobre um fato lamentável ocorrido na semana passada em Itarantim.
O prefeito Fábio Gusmão, em uma decisão que considero das mais graves dos últimos anos na política de Itarantim, vetou a realização de um evento no distrito de Ribeirão do Salto. Uma decisão tomada por um gestor eleito democraticamente, que em seu discurso de palanque prometeu um governo que “cuida de gente”.
O evento em questão, organizado pelos próprios moradores de Ribeirão do Salto, não possuía qualquer viés político-partidário ou intenção de promover nomes. Seu propósito era celebrar o mês das crianças, focando em atividades para atendê-las, servi-las e incentivar seu bem-estar. Ajudando o próprio governo…
O lema “governo que cuida de gente”, frequentemente ecoado por secretários e apoiadores do prefeito, soa vazio diante de tal atitude. Um governo que verdadeiramente cuida de gente precisa permitir que as pessoas sejam cuidadas e que espaços públicos sejam democraticamente utilizados por grupos sociais que desejam contribuir com a sociedade, como é o caso da comunidade de Itarantim. Intervenções como essa demonstram, na verdade, uma notável falta de visão ampla por parte da gestão.
Não é a primeira vez que o governo Fábio Gusmão demonstra essa tendência restritiva. Relembremos a polêmica envolvendo o vice-prefeito nas eleições presidenciais, quando o prefeito tentou impedir um evento de livre manifestação de apoio a um candidato. Outro episódio marcante foi a ação da guarda municipal, a mando do prefeito, para desmantelar a ornamentação de uma festa tradicional que ocorria há anos na cidade. Diante desses fatos, a afirmação de que este é um “governo que cuida de gente” levanta sérias dúvidas.
É importante ressaltar que esta opinião não visa ofender amigos que, mesmo dentro do governo, discordam dessa decisão. A questão que fica é: de quem partiu essa ordem e qual o interesse em barrar um evento cultural e festivo infantil, que levaria alegria à comunidade, especialmente às crianças?
Como diz o ditado popular, “para quem gosta de confusão, qualquer lugar serve”. E o vereador Toninho Tigre, da base governista, parece ter se enveredado por esse caminho. Em um vídeo divulgado nas redes sociais pelo empresário Joelan Sobrinho – parceiro dos moradores de Ribeirão do Salto na realização do evento –, o vereador fez comentários que evidenciam um desconhecimento tanto da redação quanto da questão jurídica do ofício. Ele alegou que o documento estava errado e que o prefeito interpretou mal seu conteúdo.
A resposta veio de forma contundente. O empresário Joelan Sobrinho e os advogados do grupo rebateram o vereador, demonstrando a correção e clareza do ofício. Nossa redação não tem intenção de atacar o vereador Toninho nem de defender um grupo específico; estamos apenas apontando uma situação perigosa para o município, que pode abrir precedentes para futuras ações que firam grupos sociais. Como representante do distrito, o vereador deveria, independentemente de sua posição na base governista, repudiar ações como essa. Contudo, sabemos que a compreensão de alguns temas, especialmente os que envolvem grupos sociais e democracia, pode ser desafiadora para certos indivíduos que ocupa uma cadeira naquele recinto.
Esse embate nas redes sociais, protagonizado pelo vereador, lança luz sobre a iminente sessão da Câmara nesta terça-feira, 21 de outubro, que promete ser um “fogo no parquinho”. É provável que o empresário Joelan Sobrinho utilize a tribuna para expor o caso, e os vereadores da base governista já se preparem para defender a posição do prefeito, possivelmente com argumentos e arcabouços jurídicos que ainda desconhecemos.
Em última análise, precisamos almejar uma sociedade justa e constitucional. A Constituição de 1988 é o divisor de águas da nossa nação, estabelecendo direitos e deveres de todos. Ela garante a democracia, o direito de ir e vir, o direito de exercer funções e de promover o bem-estar social. Por isso, nossa Carta Magna precisa ser respeitada por todos. O que vimos neste fim de semana, no entanto, foi a desconsideração desse preceito pelo governo municipal, com o prefeito Fábio Gusmão, ao proibir a realização de um evento de um grupo social, rasgando, simbolicamente, um pedaço dessa constituição perante a sociedade de Itarantim.