Retalhos de uma história: Uma casa na rua Manoel Novaes
Entre os anos de 1998 e 2001, numa casa na rua Manoel Novaes, centro de Itarantim, acontecia uma grande experimentação na produção de conteúdo jornalísticos e manifestações artísticas de observações históricas municipais.
Naquele ambiente, fora montado (para a época) uma sofisticada oficina criativa, de onde era produzido um jornal impresso (Folha do Interior) que circulava quinzenalmente, também, materiais de áudio e, timidamente, conteúdos de vídeos. Aquele movimento era a evolução de outro momento na forma de se produzir comunicação social, a partir de 1995, com o periódico Força de Opinião (sobre o qual falarei noutra ocasião).
Éramos um conjunto de jovens envolvidos numa atmosfera mais de resistência; jovens mergulhados nos mais entusiasmados sentimentos de oferecer outras possibilidades nos horizontes políticos, em combate direto para evitar o retorno da desagregação social, promovida pela política de mandonismo, através da truculência numa prática que não mais condizia com os tempos que se anunciavam no aurorescer de um novo século.
Para idealizar o futuro, ali, nos dedicávamos ao questionamento direto com muita coragem, personalidade e determinação. O furor da juventude fazia com que não calculássemos os riscos mais eminentes. E foram muitos! Contudo, ainda que combativos, sem nunca misturar pessoa e política. Em nenhum momento desrespeitamos a individualidade.
A casa na rua Manoel Novaes, posso crer, foi uma grande escola para todos nós. Por lá aprendíamos, mais com a vontade e determinação, do que com as regras formais pré-estabelecidas. Era mais um movimento de resistência de jovens desafiadores e dotados de capacidades sem pretensão para o estúpido heroísmo. A ação do pensamento era direta, sem a ‘roda gigante’ do falso intelectualismo determinante, fútil e arrogante. Ainda que, diante riscos e dificuldades, éramos resilientes a sermos quase inconsequentes. Naquela casa, estavam: Atevaldo Fonseca, responsável pela revisão textual e redação; Júnior Carvalho, na maquinaria do suporte técnico e transporte; Marinalva Paiva; articuladora da publicidade, assinaturas e distribuição; João Salomão, ancora dos conteúdos de áudio; Augusto MT, arte e designer; Mauro Sérgio iniciando sua vivencia de comunicador e participação política; Ana Paula, secretariando, e eu, transitando e aprendendo entre eles. E, o mais magnifico, para garantir a firmação social do projeto, as presenças dos mestres (in memoriam), Zé de Ciriaco e Wandick Mota (Kiiripa). O octogenário Zé de Ciriaco tinha uma coluna fixa: Testemunha da História. Enquanto o arte-cidadão Kirripa, gritava poesias cortantes e doloridas.
Certa ocasião, recebemos a visita do correspondente do jornal A Tarde, Jeremias Macário, que nos disse, ser aquela uma redação de trincheira. Dali saiam os fotolitos para impressão e áudios para ser masterizados em Itapetinga e Vitória da Conquista. (Ops) tivemos até uma rádio pirata, hein, Junão!
Foi assim numa casa na rua Manoel Novaes; um momento de luta e resistência —, isso me orgulha. Daquela casa, surgiram profissionais que elevaram a cidadania: educadores, comunicadores, técnicos e artistas que, se um dia lembrados e compreendidos, poderão servir de inspiração e motivação para outros, quem sabe, os de hoje, responsáveis pela continuidade da marcha humana na unidade territorial brasileira e baiana, chamada Itarantim.
***
Não tínhamos as facilidades tecnológicas e de mobilidade como agora. Era uma experimentação que dependia de entregas e desafios. Portanto, com esse relato de memória, sinalizo aos departamentos de comunicação social do governo municipal, da câmara de vereadores e do poder judiciário, quanto a sensibilidade e importância dos veículos que produzem conteúdos de informação e notícia. Essas novas ferramentas são essenciais para a formação da cidadania. Para isso, seus responsáveis e produtores precisam de atenção, participação e, por direito, financiamento. Observem em suas disposições orçamentarias para a promoção de suas ações; estabeleçam cotas e façam uma distribuição justa. Pois, no romper do tempo, hoje, no município de Itarantim, funcionam mídias digitais e emissoras de rádio que expressam o sentimento coletivo através de seus comunicadores. Profissionais que trabalham e precisam garantir segurança e renda para continuarem como instrumentos de notícias onde a comunidade possa se sentir parte da informação para sua formação social.
EM NOTA: A imagem que ilustra esse artigo (https://goo.gl/maps/EYJru4xUAhZr5jLB8), apesar das mudanças em sua fachada, mantém a construção original da casa citada nesse relato textual.
***
De São Paulo, 04 de fevereiro do Ano da Graça de 2021, J Rodrigues Vieira, para o Crônicas de Itarantim.