Intoxicações por metanol podem não ser fruto de falsificação, mas falha de produção, alerta especialista

As recentes notificações de intoxicação por metanol em bebidas alcoólicas no Brasil, incluindo uma morte em investigação na Bahia, ocorrida nesta sexta-feira (3), podem não estar ligadas à falsificação intencional. Para a doutora em Química Analítica Débora Santana, que desenvolveu sua tese sobre cachaças baianas, o cenário mais provável é a contaminação resultante de falhas no processo de produção. Produções clandestinas, sem o rigor técnico necessário, tendem a descuidar de etapas cruciais, favorecendo a presença de substâncias altamente tóxicas.
Como ocorre a contaminação
A doutora explica que, durante a destilação, são geradas três frações distintas em razão da diferença de volatilidade das substâncias. A primeira contém metanol, acetona, aldeídos e éteres, alguns deles cancerígenos, e deve ser descartada. A segunda concentra o etanol, destinado ao consumo, e a terceira, com sabor desagradável, também deve ser eliminada. Quando o corte não é realizado corretamente, como costuma ocorrer em produções sem fiscalização, essas toxinas acabam presentes no produto final. “É muito importante o corte dessa primeira fração”, reforça a pesquisadora.
Riscos à saúde
O metanol é um composto extremamente perigoso. De acordo com Santana, mesmo em pequenas quantidades pode provocar sintomas como náuseas e tontura, evoluindo para falência renal, respiratória e até perda irreversível da visão. No país, o Ministério da Saúde já contabilizou 60 suspeitas, com 11 confirmações em São Paulo, além de um óbito confirmado e outros sete em investigação.
Dificuldade de identificar
O consumidor comum não consegue reconhecer a presença de metanol apenas pelo sabor, cor, textura ou aroma. “Dificilmente conseguimos perceber por alterações físicas na bebida”, observa Santana. Há testes colorimétricos simples, baseados na reação com permanganato de potássio, mas eles podem gerar falsos positivos. Por isso, a especialista considera a cromatografia o método mais confiável, já que os cromatógrafos oferecem alta sensibilidade para detectar a contaminação.
Risco em cervejas, vinhos e licores
Segundo Débora Santana, o risco de contaminação por metanol em bebidas fermentadas, como cervejas, vinhos e licores, é praticamente inexistente. Isso porque o metanol surge especificamente na etapa de destilação, que não faz parte da produção desses tipos de bebida. O perigo aparece em destilados, como cachaça, whisky e vodka, quando o corte das frações não é feito com rigor técnico e no controle correto da temperatura. Nesses casos, o metanol pode permanecer na bebida destinada ao consumo, oferecendo sérios riscos à saúde.
Fiscalização e prevenção
Na Bahia, a Secretaria da Saúde orientou hospitais e clínicas a notificarem imediatamente casos suspeitos, enquanto o governo estadual mantém articulação com o Ministério da Saúde e autoridades sanitárias. Para Débora Santana, a prevenção passa pela fiscalização rigorosa da produção e pela atenção do consumidor. (Metro1)