Religiosidade: Ibejis, Cosme e Damião, Erês, os Pontos de Erês, veja uma das celebrações mais antiga do Brasil
A festa dos gêmeos envolve todo um sincretismo religioso nas festas de Ibeji e de Cosme e Damião que é celebrada sempre nesta data de 26 e 27 de setembro. A igreja católica celebra os irmãos gêmeos Cosme e Damião na data 26, já as religiões de matriz africana celebram os Ibejis um dia depois.
As duas comemorações estão presentes também em nosso imaginário, seja pela distribuição de doces às crianças, seja pela oferta do caruru ao orixá ou aos santos. As similaridades entre os cultos de devoção e as comemorações são um retrato do sincretismo religioso brasileiro e das dinâmicas sociais do país: o processo de colonização, o tráfico de escravizados e as estratégias de sobrevivência e manutenção de memórias e cultos do povo negro.
Esse sincretismo, embora presente em diversas sociedades pelo mundo, adquire posição de destaque nas práticas religiosas da diáspora negra. Religiões e práticas religiosas africanas se desenvolveram em sociedades que tiveram a presença de pessoas negras escravizadas, como destacou Icaro Mello, estudioso sobre religiosidade popular no Brasil.
Ibeji e os gêmeos
“Ibeji” vem do iorubá ibi (nascimento) e ji (dois): é o orixá jeje-nagô dos gêmeos, sendo seu tutor e guardião. As sociedades iorubanas do continente africano possuem uma das maiores taxas de nascimento de gêmeos do mundo. E a relação dessas sociedades com o nascimento dessas crianças transcorreu de diversas maneiras durante a história: do medo à celebração. A representação de Ibeji se dá justamente na duplicidade dos gêmeos, usualmente com duas estátuas, uma referindo-se ao masculino e outra ao feminino. Nas sociedades iorubanas os gêmeos são indissociáveis, duas manifestações da mesma alma; por isso, possuem papel especial, com nomes específicos e rituais funerários diferentes daqueles das demais pessoas. A Ibeji é confiada a proteção não apenas dos gêmeos, mas de todas as crianças.
Cosme e Damião
Cosme e Damião são dois santos gêmeos da tradição católica. Médicos, exerciam a cura sem cobrar pelos serviços, e, por isso, traziam muitos novos fiéis para a fé cristã. O culto aos santos gêmeos chega ao Brasil por volta de 1530, e eles se tornam os padroeiros de Igarassu, em Pernambuco. São padroeiros da medicina (especialmente da cirurgia), dos médicos, das crianças, dos barbeiros e dos cabeleireiros, entre outros. Nas práticas religiosas de negros escravizados no país, que sincretizaram orixás e santos católicos como estratégia de manutenção dos cultos de suas sociedades em meio à ausência de liberdade religiosa, Cosme e Damião foram associados ao orixá Ibeji. Aqui, em muitas das representações imagéticas dos santos gêmeos, eles são infantilizados ou muito mais jovens que sua contrapartida europeia, e frequentemente estão acompanhados de mais uma figura, o Doum. Nas sociedades iorubanas, o nome Doum costuma ser dado aos meninos nascidos após irmãos gêmeos, o que ressalta a influência do sincretismo religioso mesmo nas práticas católicas no país.
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