BAHIA] Tradição cecular: baianos festejam Nossa Senhora da Conceição padroeira da Bahia
Após uma celebração restrita ao interior da igreja em 2020, por conta da pandemia de Covid-19, as celebrações de Nossa Senhora da Conceição voltaram a ganhar às ruas de Salvador em 2021.
A festa celebrada neste 8 de dezembro é uma das mais tradicionais da Bahia. Centenas de pessoas compareceram à região do Comércio, onde fica a igreja, nesta quarta-feira. A primeira missa aconteceu às 4h. A celebração solene, presidida pelo Arcebispo de Salvador e Primaz do Brasil, Cardeal Dom Sergio da Rocha, aconteceu às 9h30, seguida de Coroação Canônica.
A imagem da Imaculada Conceição esteve durante todo o tempo do lado de fora da igreja ao lado do povo, e da imagem de São José. Por conta das restrições sanitárias, o acesso ao interior da igreja foi restrito e era liberado por demanda. Muitos fiéis enfrentaram uma longa fila para entrar na basílica.
“Enfrentei a fila, mas Nossa Senhora da Conceição merece muito mais. Enfrentamos muita dificuldade nessa pandemia e estamos aqui para agradecer por chegarmos até aqui”, contou a aposentada Ubalda Carvalho, de 67 anos.
Em um momentos mais emocionantes do dia, devotos que aguardavam do lado de fora iniciaram uma cantoria em homenagem a Nossa Senhora da Conceição. Nem mesmo a chuva fez com que os devotos deixassem a frente da igreja onde disputavam espaço ao lado da imagem de Nossa Senhora da Conceição.
Após a missa solene, por volta do meio dia. Os sinos ecoaram para festejar a padroeira da Bahia. Muitos fogos marcaram a saída da carreata com a imagem da Imaculada Conceição. A imagem segue pelas ruas da Cidade Baixa acompanhada de outros veículos. A imagem vai percorrer diversos pontos importantes para os católicos, entre eles, o Memorial de Santa Dulce dos Pobres e a Basílica do Santuário do Senhor Bom Jesus do Bonfim, antes de retornar para a Basílica da Conceição da Praia. Por onde passa, a imagem recebe o carinho e a devoção das pessoas. Algumas seguiram caminhando atrás do carro que leva a imagem.
“Visita seu povo, mamãe. Faz esse povo usar máscara e obedecer às vacinas, minha mãe”, pediu uma devota que assistia a carreata.
“Visita seu povo, mamãe. Faz esse povo usar máscara e obedecer às vacinas, minha mãe”, pediu uma devota que assistia a carreata.
Ainda haverá celebrações às 14h e 17h (esta é a Missa da Amizade, por todos os fiéis que colaboram para a realização da festa).
Moradora do bairro do 2 de Julho, na região próxima à basílica da Conceição, dona Hercília, de 83 anos, ficou do lado de fora, e ao lado da imagem da Santa agradeceu por graças alcançadas.
“Eu tenho um filho de 58 anos que nasceu num dia de hoje. Desde então, eu venho todos os anos agradecer. Se eu cheguei até aqui foi porque Nossa Senhora da Conceição permitiu. Tenho muito fé nela e sei para ela nada é impossível. Por isso, acredito que vamos vencer essa pandemia. Estou aqui hoje para agradecer por tudo e também para pedir”, contou.
Entre os devotos, o clima era de esperança pelo fim da pandemia. “Esse é um momento de esperança para todos nós. Temos que seguir com os cuidados, usando máscara, álcool. Eu faço 71 anos hoje e todos os anos venho pedir por mais irmãos e pelos meus”, contou Neide Santos.
Para a professora de história Conceição Bacelar, que já carrega no nome a homenagem a Santa do dia, ver as pessoas de volta às ruas é algo simbólico para o povo da Bahia.
“Eu herdei essa fé de minha mãe. Me chamo Conceição fui batizada nessa igreja, sou da pastoral afro e sei o quanto esse reencontro traz esperança e é representativo para todos nós baianos. Hoje é um dia especial”, disse.
Houve aglomeração em alguns pontos, mas a maioria dos fiéis utilizada máscaras.
Além das celebrações católicas, o sincretismo religioso entre Nossa Senhora da Conceição e Oxum, divindade da água doce na religião de matriz africana, também esteve presente na celebração. O babalaxé [título atribuído ao babalorixá, por ser também o zelador do axé do terreiro] Marcelo Gomes destaca o encontro de religiosidades, mas prefere distanciar as duas entidades.
“Esse é um momento especial porque as pessoas vêm aqui pedir para as coisas melhoraram, que essa doença maldita vá embora. Nós do candomblé também viemos pedir a nossa Senhora. Nós cultuamos Oxum que não é Nossa Senhora. Oxum é Oxum, nossa Deusa da beleza, das coisas bonitas. E Nossa Senhora é Nossa Senhora. As pessoas gostam de limpar o corpo, retirar as impurezas”, contou.
A tradição cantada por Dorival Caymmi nos anos 40 carrega muitos anos de história. A celebração é mantida por fiéis há mais de quatro séculos. A Basílica de Nossa Senhora da Conceição da Praia, localizada na Cidade Baixa, era uma pequena capela em 1549, ano em que foi construída por ordem do então governador do Brasil, Tomé de Souza. Desde esse período a festa é realizada, mas não com a proporção dos dias atuais.
O dia 8 de dezembro foi oficializado como o dia de Nossa Senhora da Conceição da Praia por ser a data em que foi proclamado o dogma da Conceição de Maria, em 1854, pelo Papa Pio IX, que confirmava que a concepção da mãe de Jesus havia sido sem pecado.
Neste ano, a celebração é ainda mais especial. A Imaculada Conceição completa 50 anos como padroeira principal do estado da Bahia. A pedido dos bispos da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil Regional Nordeste III, o Papa Paulo VI decretou em 1971, Nossa Senhora da Conceição da Praia a padroeira da Bahia.
“Minha fé em Nossa Senhora da Conceição foi herdada dos meus pais. Eu sou artista plástico e esse criei essa obra em homenagem aos 50 anos de Nossa Senhora como padroeira da Bahia. Como artista, eu tive que parar minha arte durante a pandemia e foi Nossa Senhora quem me ajudou a passar por tudo isso”, contou Adilson Guedes ao g1. Fonte G1Bahia.