Maiquinique foi convocada para uma grande comemoração. Carros de som, cards espalhados, máquina pública em ponto morto para celebrar o “provimento” do recurso da prefeita Valéria Silveira no TRE — como se decisão ainda recorrível fosse título definitivo. Mesmo sem trânsito em julgado, mesmo com recurso cabível ao TSE, a ordem era festejar. Não se sabe exatamente o quê, mas festejar. O gesto, mais do que comemoração, soou como deboche: deboche da Justiça Eleitoral de Macarani, deboche do bom senso e, sobretudo, deboche do povo, que majoritariamente recebeu a decisão do tribunal com tristeza, perplexidade e desconfiança.
O resultado foi um espetáculo constrangedor. A carreata teve bebida distribuída, gente alterada, discussões, rostos envergonhados e presença maciça dos contratados, comissionados e secretários — a tradicional “turma da pindura”, convocada sob o velho método pedagógico do vá-ou-rua. Teve tudo: som alto, abusando, desrespeitando pessoas idosas, algumas enfermas, bandeiras, empolgação artificial e obrigação funcional.
Só faltou o detalhe inconveniente para qualquer ato político minimamente sério: o povo. O povo de Maiquinique, cansado das mazelas, denúncias, ações de improbidade, investigações e números vexatórios do que muitos já consideram o pior governo da história da cidade, preferiu assistir de longe ao grotesco desfile do fracasso.
Se a prefeita se gaba de um provimento unânime no tribunal, o povo respondeu com outro tipo de unanimidade: não compareceu. E essa decisão não cabe recurso, não admite embargo e não sobe para instância superior. Porque povo não se convoca por card, não se compra com bebida e não se arrasta por medo de demissão. Povo comparece quando acredita. Em Maiquinique, a carreata passou, o barulho ecoou por algumas ruas… e o silêncio popular respondeu alto, claro e definitivo: não.